Petrobras e a Perda de 88,6 bilhões no Ativo Imobilizado

Por que é que só agora apareceram os 88,6 bilhões de perdas no ativo imobilizado da Petrobras?

Por que é que só agora apareceram os 88,6 bilhões de perdas no ativo imobilizado da Petrobras?

Perdas de Ativo Imobilizado Petrobras - Índice
 

Conforme a nota explicativa do balanço da Petrobras, os testes de impairment realizados no passado não detectaram perdas substanciais nos valores do ativo imobilizado.

A Petrobras (PETR3, PETR4) finalmente divulgou o balanço do terceiro trimestre, mas sem o valor real dos ativos. O resultado da avaliação pelo método de fluxo de caixa descontado mostrou que a empresa tem contabilizado valores bem acima do valor justo (fair value) em função do superfaturamento por conta da Operação Lava Jato.

A Lei 11.638/2007 regulamentou o Teste de Impairment ou teste de recuperabilidade, que consiste em verificar se a empresa consegue recuperar o valor imobilizado seja pela venda ou pela capacidade de geração de riqueza. A capacidade de gerar resultado é o valor de uma empresa.

O que chama a atenção é que a nota explicativa afirma que “os valores contábeis dos ativos impactados por esses pagamentos não sofreram perdas por impairment no passado, pois suas recuperabilidades são testadas em unidades geradoras de caixa (UGC) que historicamente, apresentam valores em uso superiores aos seus respectivos valores contábeis. O cálculo do valor em uso inclui os benefícios das sinergias existentes entre os ativos que constituem a UGC”.

A questão é que o resultado da “Avaliação contratada pela Petrobras para calcular o valor justo de determinados ativos” considerando a “visão de mercado” apontou valor justo total inferior de R$88,6 bilhões. Como é que só agora foram apontadas as diferenças bilionárias? Será que somente os benefícios das sinergias existentes entre os ativos justificam tamanha diferença?

A própria nota explicativa na página 14, para justificar o tamanho da perda fala dos “Benefícios da atuação integrada da Petrobrás – Going Concern”. Este e outros parâmetros utilizados são o grande risco da utilização do método de avaliação por fluxo de caixa descontado. Estes parâmetros são fornecidos pelos diretores da empresa avaliada. São subjetivos e podem ser dimensionados conforme a visão ou necessidade de apresentar resultados positivos.

 

 

É de se supor que nos testes de recuperabilidades realizados no passado pela Petrobras não foram considerados a “visão de mercado”. Foram utilizados parâmetros que levavam aos “resultados que historicamente, apresentam valores em uso superiores aos seus respectivos valores contábeis” conforme afirma a nota.

Apesar do método ser largamente utilizado para avaliação de empresas, a metodologia deve ser usada com muito cuidado e por profissionais experientes. O método consiste em trazer o fluxo de caixa futuro da empresa ao valor presente com a aplicação de uma taxa de desconto. Depende primeiro de estimar corretamente o fluxo de caixa futuro; segundo de usar a taxa de desconto correta.

Na composição do cálculo entram vários fatores subjetivos. Por exemplo, a projeção do fluxo de caixa é feita para um período de cinco ou dez anos, mas provavelmente a empresa não irá parar a atividade no final do período calculado. Neste ponto entra um componente denominado valor da perpetuidade. O valor da perpetuidade é calculado usando uma taxa de crescimento denominado “g” aplicado sobre o valor do último período do fluxo de caixa. Quanto maior o “g” maior será o valor da empresa.

 
 

 

Isto é só para mostrar que o valor calculado pelo método é resultado dos dados imputados na fórmula matemática. Estes dados são fornecidos pelos diretores da empresa objeto da avaliação. Nem é preciso dizer o que acontece se eles forem os principais interessados em que o resultado aponte valor justo maior.

O fato dos testes de recuperabilidades anteriores da Petrobras não terem mostrado as perdas não descredencia o método de avaliação por fluxo de caixa descontado. Basta ver que no novo cálculo com a “visão do mercado” a ferramenta apontou que os ativos estão contabilizados com R$88,6 bilhões a maior, comprovando que estão incorporados os valores relativos ao superfaturamento investigados na Operação Lava Jato.

 
 
 

 
 
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Orlando Oda
Orlando Oda
Orlando Oda é Administrador de empresas pela PUC-SP, Mestrado em Administração Financeira pela FGV, Diretor da OTK Sistemas, AfixCode Patrimônio e Avaliações e AfixGraf Soluções Gráficas. Fez diversos cursos de linguagens de programação de computadores, sistemas operacionais (IBM, Unisys, Honeywell) e banco de dados. Carreira profissional desenvolvida inicialmente na área de tecnologia, consultoria na área de TI. Fundou e participou também de empresas de consultoria e sistema de gestão patrimonial. Desenvolve atividade filantrópica como Vice-presidente e palestrante da APSIB - Associação da Prosperidade da Seicho-No-Ie do Brasil. | LinkedIn: /in/orlandooda

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